sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A INVASÃO DO AMARELO NA TERRA DO CÉU AZUL


Ipês-amarelos iniciam temporada de floração em Brasília
Ouro em pétalas contrasta com a paisagem que caracteriza a cada vez mais severa seca do cerrado


Correio Brasiliense: Publicação: 07/08/2009 08:01 Atualização: 07/08/2009 09:19

Nesta época do ano, em meio ao tempo seco que tanto incomoda os brasilienses, a paisagem árida do Distrito Federal ganha uma nova coloração. De julho até o mês de setembro, as flores dos ipês-amarelos surgem nas copas das árvores e se mostram bem resistentes à baixa umidade registrada no período. As folhas secas saem de cena e dão lugar à floração que encanta observadores.

O agrônomo Leandro Couto mapeia matrizes:
O agrônomo Leandro Couto mapeia matrizes: "A árvore é muito bonita, não tem como não reparar"

A professora de arborização e paisagismo da Universidade de Brasília Carmen Regina Correia explica que o ipê-amarelo costuma aparecer em todos os biomas brasileiros. Ao todo, há sete espécies nativas do país já catalogadas até hoje. O cerrado abriga três delas: Tabebuia serratifolia, Tabebuia aurea e Tabebuia ochracea, todas da família Bignoniaceae. Para Carmen, além do colorido que os ipês-amarelos conferem à paisagem, eles têm grande importância ecológica. “As flores são chamativas e atraem muitos polinizadores”, diz. Há vários nomes populares —ipê-amarelo-do-cerrado, ipê-caraíba, pau-d’arco — para denominar essas árvores que guardam características semelhantes, como as flores em tons de amarelo e o tronco tortuoso, típico de espécies de cerrado.

Como costuma fazer todos os dias, a bacharel em direito Miriam Siqueira de Paula, 49 anos, moradora da Asa Sul, vestiu uma roupa confortável, calçou um par de tênis e partiu para a rua para fazer uma caminhada. Próximo à Universidade de Brasília (UnB) avistou um ipê-amarelo e não hesitou em comentar: “É muito lindo”. Ela pretende voltar ao local para fotografar a árvore e registrar a bela paisagem. Miriam chegou a Brasília há pouco mais de quatro anos e logo se encantou. “A cidade está sempre florida”.

Ana Carolina Ferreira, 13 anos, é estudante do 8º ano e precisava fazer um trabalho de fotografia para a escola. Passeava de carro com a família, avistou alguns ipês-amarelos na rua e, por sugestão da mãe, desceu do carro e tratou de fotografar as árvores de flores amarelas e vistosas, algumas delas já no chão. “Elas ficam muito bonitas nessa época”, anima-se a estudante, que registrou várias imagens da espécie.

A frentista Alessandra Silvestre da Silva, 30 anos, moradora do Paranoá, sente-se privilegiada com a vista que tem todos os dias. Ela trabalha em um posto de gasolina rodeado de ipês-amarelos. Ao longo do dia, Alessandra se pega olhando para as flores. “As árvores estavam tão secas e sem vida e agora estão assim!”, alegra-se. A frentista conta que muitas pessoas costumam para no local para tirar uma foto.

Plantios
A estudante Ana Carolina Ferreira faz fotos de algumas árvores que colorem a paisagem da UnB - (Carlos Silva/Esp. CB/D.A Press)
A estudante Ana Carolina Ferreira faz fotos de algumas árvores que colorem a paisagem da UnB

Segundo o arquiteto Raimundo Gomes Cordeiro, do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a espécie Tabebuia serratifolia é a mais utilizada na arborização da cidade. “Nos últimos quatro anos, plantamos 32 mil exemplares da árvore. É o nosso carro-chefe”, diz. Cordeiro afirma também que no DF há exemplos da Tabebuia aurea, conhecida como ipê-caraíba, por se adaptarem bem ao solo.

Chefe da Divisão de Implantação de Áreas Verdes do DPJ, Cordeiro explica que, para a cidade ganhar esse colorido que tanto chama a tenção de moradores e visitantes, é preciso mapear o DF. É feito um levantamento em todas as áreas urbanas e parques para determinar as diretrizes do órgão. Entre os meses de novembro e março, período de chuvas, o programa de arborização é executado. “Vamos introduzir o ipê-verde na cidade junto às outras espécies”, revela.

O agrônomo Leandro Ribeiro Couto, 25 anos, trabalha em parceria com o biólogo Bernardo Ramos, 26 anos, no mapeamento de matrizes para a coleta de sementes. Ele pretende percorrer a cidade para a conclusão do estudo. E, enquanto identificava as espécies, aproveitou para destacar a beleza do ipê-amarelo: “A árvore é muito bonita, não tem como não reparar”.

Onde eles estão

Ao longo do Eixão Sul

Lago Norte (próximo à QI 11)

Próximo ao Autódromo Internacional Nelson Piquet

Universidade de Brasília

Setor de Indústria e Abastecimento

Próximo ao Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF)


PARA SABER MAIS
Peculiaridades das espécies

Segundo a professora de arborização e paisagismo, algumas espécies de ipês-amarelos se mostram bem adaptadas a solos mais pobres. No DF, após o período chuvoso, o ipê-amarelo perde todas as folhas. É na época da seca que as flores aparecem. Elas dão origem aos frutos e sementes. A frutificação ocorre entre os meses de setembro e outubro.

Na medicina popular, acredita-se que as folhas, flores e a casca de algumas espécies de ipê-amarelo têm propriedades curativas. A madeira, de alta densidade, é dura e pesada e amplamente empregada na construção civil e na confecção de mobiliário.

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