quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

DO LADO ESQUERDO DO PEITO!!! (A REPORTAGEM DO CORREIO BRAZILIENSE)

36/37 • Brasília, domingo, 11 de junho de 2006 • CORREIOBRAZILIENSE

COMPORTAMENTO

No mundo fragmentado em que vivemos, as relações de amizade ganharam importância ainda maior. São tantas as inconstâncias da vida moderna que os amigos agora são também setorizados

DO LADO ESQUERDO DO PEITO
ÉRICA MONTENEGRO DA EQUIPE DO CORREIO

GABRIELLA, LUIS FERNANDO E ROGÉRIO

Eles sempre foram fundamentais, mas, de uns tempos para cá, aumentaram ainda mais seu poder de influência. Com a diminuição do tamanho das famílias, a inconstância nas relações amorosas e a multiplicação das relações sociais, os amigos passaram a ser um dos mais importantes pontos de apoio na vida de homens e mulheres. São eles para quem confiamos nossos segredos, para quem recorremos na hora do sufoco e com quem firmamos pactos de aliança para enfrentar a crueza da vida. Mas, dentro de uma relação de amizade, tudo é permitido? Quais são os limites dessa modalidade de relacionamento?

Até onde um amigo pode ir sem exigir demais do outro? Antes de mais nada, é necessário pontuar o lugar dos amigos no mundo de hoje. Primeiro, eles são em maior número e de diferentes tipos. O ser pós-moderno possui uma identidade fragmentária. Significa que ele freqüenta diferentes grupos porque tem múltiplos interesses, então ele conhece uma variedade de gente. “Você pode ter o amigo de infância, o amigo do cinema, o amigo do mountain bike, o amigo do trabalho e todos eles você pode considerar como bons amigos”, aconselha o psicanalista paulistano Jorge Forbes, um dos curadores do programa Café Filosófico da TV Cultura.

Pois bem, com cada um destes diferentes tipos de amigo se estabelece uma relação com regras próprias, individualizadas. Pelas observações de Forbes, essas relações costumam ser de três tipos:

1) divisão de prazer: pessoas que se encontram para compartilhar uma atividade que acreditam prazerosa
– ir para a balada ou pegar uma sessão de cinema, por exemplo;
2) divisão de interesses: pessoas que compartilham um campo específico de interesse
– são os amigos do trabalho, do grupo de estudos ou dos fóruns de opiniãoda internet e
3) divisão de solidariedade
– relação que é difícil de explicar mas é muito bem descrita por aquela música antiga do Roberto Carlos: “amigo de fé, irmão, camarada”. “Os amigos de solidariedade compreendem e têm acesso a um buraco chamado “solidão fundamental”, todos nós temos esse buraco dentro do peito”, afirma Forbes. “É quando a amizade se assemelha ao amor”, completa.

UM ABRAÇO FORTE!!!

O psicoterapeuta brasiliense Alexandre Staerke acredita que a chave para se dar bem com os amigos é justamente reconhecer o papel que eles são capazes de desempenhar nos diferentes aspectos de nossas vidas. “Um grande problema é querer tudo em uma só pessoa. Exemplo: se afastar do amigo da balada porque é impossível levar um papo sério com ele”. Para Staerke, “contextualizar a amizade” – estar atento a como ela surgiu e até aonde ela já se desenvolveu, aumenta o número de amigos e torna as relações mais saudáveis. “O ponto crítico nas relações de amizade é a quebra de confiança, mas isso só acontece quando estamos confiando nas pessoas erradas”, completa. Mas como saber em quem confiar, então? Qual o amigo para o qual podemos contar nossos segredos mais cabeludos? “Isso é uma coisa que se aprende por tentativa e erro, como quase tudo na vida”, brinca Staerke. No mundo individualista que vivemos, há quem questione a disposição das pessoas em se doar para uma amizade verdadeira. Para o antropólogo e sociólogo Antônio Flávio Testa, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), isso não condiz com a realidade: “Os projetos individuais não são construídos sozinhos, dependem da solidariedade de outras pessoas”. Isso quer dizer que, apesar de bastante autocentrados, nós, seres pósmodernos, precisamos encontrar quem apoie e se identifique com nossas idéias. “O grupo dá o suporte necessário para que a identidade de cada um aflore”, completa Testa.

AMIGOS ETERNOS!!!

Ao analisar as relações de um grupo de adultos jovens ingleses, a antropóloga carioca Cláudia Barcellos Rezende, da UERJ (UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro) descobriu que eles se ressentiam muito da dificuldade de se “abrir”. “Eles queriam se mostrar completos em uma relação,contar intimidades, mas tinham medo de afastar os demais se fossem eles mesmos”, explica Cláudia. Para ela, isso está muito ligado ao estabelecimento dos limites entre o que é público e o que é privado por aquelas bandas. “Lá, trabalho e amizade não se misturam. São mundos à parte”. Aqui no Brasil, as coisas são mais fluidas. “Em um bar, o cliente chama o garçom de amigo. Significa que, pelo menos, naquela circunstância, os dois estão estabelecendo uma relação de amizade”, pontua.

Rogério Furtado, 24 anos, e Luís Fernandes Tavares, 21 anos, se conheceram em uma situação formal - passaram na UnB em 2004 para o curso de pedagogia, mas a amizade ampliou-se para outros campos da vida. “Quando você descobre afinidades, tudo rola naturalmente”, conta Luís que se lembra de ter ficado pelo menos uma hora e meia conversando com Rogério já no primeiro dia de aula. “Logo descobrimos que curtíamos o mesmo tipo de som. Depois, sacamos que tínhamos muitas idéias parecidas”, relata Luís. O som no caso é o rock dos anos 70. Na quinta-feira, quando foram entrevistados pelo Correio, estavam no tumultuado restaurante da UnB, conversando calmamente sobre música. Rogério tinha trazido discos de vinil para emprestar para Luís. “Amigo também é para trocar informação”, brinca Rogério. O fato é que, mesmo em meio à multidão, há sempre algum companheiro de solidão fundamental.

POINT DE ENCONTRO DESSA AMIZADE!!! (ONDE FOI FEITO A REPORTAGEM)


3 comentários:

Conde, o Eu disse...

BELEZA, ROGER!!!!!!!!!!Apesar de ser sob forte PRESSÃO, foi muito legal ver um post sobre essa amizade q já dura....Bela escolha de fotos. Eu nem sabia dessas (exceto aquela q a Gabi nos deu, q tá la no meu quarto).

Êia! \,,,/

Cleyton Aranha disse...

Ôhh, que bunitinho!! Estranho pensar que ja conheço vocês ha mais de 4 anos.
Tambem gostei das fotos. Adoro aquela primeira, é tão..espontanea.

Saudades, apesar de vc ter me dado um belo bolo! E ve se pelo menos aparece nos e-mails.
Beijos

Cleyton Aranha disse...

Ahhh, gabi comentando acima!rss